sexta-feira, 4 de abril de 2014

SEXO ORAL ENTRE MULHERES,HIV E OUTRAS DST`S - UM ALERTA!!



Tente se lembrar, por um minuto, do que você aprendeu sobre as formas de prevenção do HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis. Provavelmente, a primeira recomendação de que você vai se lembrar é: use camisinha. Possivelmente você vai imaginar uma camisinha masculina sendo utilizada na penetração vaginal ou anal – e, se fizer parte de uma minoria, ainda vai se lembrar de que a recomendação é utilizar também na prática do sexo oral.
Muito bom, certo? Se conseguirmos tornar reais essas recomendações simples, iremos diminuir muito a incidência de DST’s, assim como de transmissão de HIV em todo o mundo! Porque é uma recomendação simples e porque serve para homens-com-mulheres, mulheres-com-homens, homens-com-homens e… Pronto.
Mas… ops! Será que nos esquecemos de alguma coisa? E mulheres-com-mulheres? Como fazem???
 Deixando um pouco de lado o caráter incógnito das relações sexuais entre mulheres (que, como se supõe não abranger a penetração, não podem ser inteligíveis), com muito pouco esforço é possível notar que os governos, as instituições ligadas à saúde e à educação estão pouco interessadas em formas de prevenir doenças sexualmente transmissíveis no sexo entre mulheres. Quando se fala nessas formas de prevenção, muitas lésbicas se surpreendem com a sua existência ou não conferem a elas muita credibilidade, enquanto as fontes de informação (quando encontradas – geralmente produzidas pela sociedade civil em vez das instituições governamentais) se limitam a enfatizar que o sexo entre mulheres oferece, sim, risco de contração de HIV e outras DST’s sem, contudo, preocupar-se em explicar como isso acontece ou qual a probabilidade de acontecer.
O fenômeno não acontece sem motivo: quase não há investimento dos governos em pesquisas sobre o tema no que diz respeito à prática sexual entre mulheres, exclusivamente; muito menos campanhas voltadas para elas. Temos diversas pesquisas, campanhas que tem como foco as/os heterossexuais, homens gays, homens que fazem sexo com outros homens sem serem gays (HSH), transexuais… Mas lésbicas? Quase nada.
Pode pesquisar no Google. Prevenção de DST’s e HIV para lésbicas. Em suma, você vai encontrar páginas que falam sobre o uso das “barreiras de proteção” (que devem ser “fabricados” pelas mulheres, já que a produção de preservativos se limita àqueles indicados para as e os heterossexuais) para o sexo oral e algumas outras orientações que se servem das descobertas já feitas quanto ao velho sexo heterossexual… Se fizer uma pesquisa mais cuidadosa e comparar uma fonte de informação com outra quanto aos cuidados na hora de fazer o sexo oral, você vai perceber que, apesar da certeza de que é preciso prevenir, na maioria das vezes as fontes apresentam a informação de maneira superficial… pouco assertiva… apresentando inclusive algumas contradições.
Deixando de lado também a indignação por até as instituições de saúde reforçarem a invisibilidade lésbica no nosso país, consigo pensar que esse fenômeno não foge muito do esperado. Afinal, se quando se pensa em sexo lésbico só se pensa na falta de penetração de um pênis em algum orifício; e se a leitura que se faz da exposição aos agentes patogênicos envolve quase necessariamente a penetração, então por que as pessoas e instituições iriam se preocupar com o sexo que as mulheres fazem?
Ooops, mas espere aí. Pensando um pouquinho mais, algo importante me ocorre: então só mulheres fazem sexo oral em mulheres???
Quem faz sexo oral numa mulher?

É muito curioso como o uso das barreiras para o sexo oral nas mulheres está pouco presente na maioria das fontes de informação voltadas para o grande público (a saber, as pessoas heterossexuais) sobre prevenção de HIV e outras DST’s. É como se os homens nunca fizessem sexo oral nelas, apenas o recebessem. Ao mesmo tempo, é como se esse tipo de sexo não oferecesse tantos riscos.
Seria risível se não fosse trágico. A leitura do sexo em nossa sociedade está tão focada na presença ou não de pênis, na presença ou não de penetração e em que orifícios é possível realizá-la que só se pensa em sexo oral quando as mulheres o fazem. Se elas o fizerem em homens, então essa prática oferecerá muitos riscos (porque no imaginário social o pênis é dotado de inúmeros superpoderes) e então precisaremos pensar em maneiras de prevenir a transmissão do HIV e outras DST’s. Mas se elas o fizerem em mulheres, não há muitos riscos porque, afinal, (e mais uma vez!) não há penetração…!
Apesar do fato de que, devido ao machismo e sexismo estrutural em nossa sociedade, os homens (digo, enquanto grupo; perdoe se você é um homem que se preocupa com o prazer da/s sua/s parceira/s ou companheira/s!) não estarem tão preocupados com o prazer das mulheres como se supõe que elas devam estar preocupadas com o seu prazer, parece óbvio que não só elas façam sexo oral neles, como que também ocorra o contrário. Nesse caso, ainda que assumamos pensar de uma maneira heteronormativa, por que praticamente só encontramos as formas de prevenção do HIV e outras DST’s na hora do sexo oral quando estamos nos referindo à prática sexual das lésbicas?
Vale lembrar que, apesar do que mostra a indústria pornográfica mainstream, as aulas de educação sexual que ministram nas escolas, a publicidade que envolve o sexo, as piadinhas de todo dia, o sexo não é só penetração, nem só sexo oral de mulher em homem nem só sexo entre homem e mulher. Existe uma gama de possibilidades no fazer do sexo, entre as quais o sexo oral está incluído, sim. E onde, numa relação heterossexual, também as mulheres recebem sexo oral. Dessa forma, é necessário pensar a prevenção do HIV e outras DST’s percebendo o sexo – e as “relações sexuais!” – de uma maneira global. De uma maneira não heterossexista nem sexista nem machista. Ou correremos o risco de empregar, no campo da saúde pública, uma força insuficiente (porque mal direcionada) para combater fenômenos como o do HIV e AIDS.
Ademais (parece necessário reforçar), é preciso reconhecer que as mulheres que recusam a primazia do pênis existem, sim; que elas fazem sexo, sim; e que elas são tão sujeito de direito quanto qualquer outro. Por isso, precisam saber com uma margem satisfatória de segurança sobre os riscos que correm ao fazer sexo sem proteção. Por isso, precisam de pesquisas (de verdade, com investimento), de campanhas voltadas para a sua saúde – assim como precisam de profissionais da saúde que saibam como orientá-las sem tentar encaixá-las numa realidade que não é a sua ou simplesmente dizer que elas “não correm nenhum risco” porque não se interessam por pênis. Além disso, é necessário que elas tenham disponíveis preservativos que realmente atendam as suas necessidades – não só preservativos que elas mesmas precisarão produzir, “de quebra”, como se fossem menos sujeitos do que aqueles e aquelas que conseguem se ajeitar dentro da heteronormatividade.
SE LIGUEM MENINAS!!!!

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